Uma mulher aos 8, 17, 18, 28, 37, 48, 49, 50 e 52 anos. A morte da amiga Carla na infância. A experiência marcante com o benzedeiro Luís. O estupro e a violência sexual sofridos de seu namorado Pedro quando tinha 17, o que resultou em uma gravidez indesejada. O filho, Lucas, nascido no ano seguinte. Um Lucas que jamais saberia de como havia sido gerado, nem do paradeiro do pai. Dez anos depois, Bete cuida de Lucas, mais do que a própria mãe. Ainda criança, o filho brincava de matar pássaros. Bete morre. Com 37, vê o filho partindo para Ouro Preto, para cursar História. Encontra um cachorro abandonado em uma loja de conveniência em um posto de gasolina. Vento passará a ser seu melhor companheiro. Aos 48, descobre-se avó. Um ano depois, a mudança do apartamento para uma casa. Lembranças da infância em velhos guardados lhe assaltam. Com 50, ainda mais só, troca a televisão por uma vitrola. Vento é atropelado e morto. Tudo isso é narrado em primeira pessoa, com exceção das últimas páginas no capítulo “póstumo”. Narrativa com estilo próprio, organizada em espécie de versos (sem rimas), com vários espaços em brancos, com quebras inusuais de parágrafos e palavras com inicial maiúscula ao acaso, para acentuação de significados. O sinal de + serve como novo sinal de pontuação para o encadeamento das partes da narrativa. Aline Bei constrói sua própria linguagem, permitindo-se romper com a mancha contínua da prosa na folha de papel, para ressignificar o sentido poético da metáfora por trás do “peso do pássaro morto”.
{voz da literatura}
Comments