{ } Manuel Bandeira colaborou com o periódico Boletim de Ariel (1931-1939), dirigido por Gastão Cruls e Agripino Grieco. A revista se dedicava, a cada número, a vasta bibliografia, não somente à literatura. Era uma “revista dos livros”. Certamente, uma das mais importantes durante a década de 1930. No presente artigo, sem título, Bandeira escreve para a coluna “Revistas”, dando notícia do trabalho “La nueva poesia brasilera“, do poeta peruano Alberto Guillén, publicado na revista chilena Atenea em 1931. { }
[La nueva poesia brasilera]
Em Atenea , ns. 73 e 74, publica Alberto Guillén um breve estudo sobre “A nova poesia brasileira”. (1)
Alberto Guillén é peruano e já residiu entre nós como secretário da legação de seu país (2). Poeta de fina sensibilidade e apaixonado pelas coisas da América, organizou há alguns anos atrás, uma antologia da poesia sul-americana, cuja primeira edição se esgotou rapidamente. Atualmente prepara uma segunda edição, melhorada e ampliada, dessa obra e mais uma antologia da nova poesia brasileira. São materiais destacados dela as traduções e notas que aparecem em Atenea.
Esta revista, editada pela Universidade de Concepcion, já vai pelo seu ano VIII. É uma revista de ótima apresentação, e dirige-se a Domingo Melfi (3). Melfi, diz Alberto Guillén, “es de los hombres más enterados y entusiastas de América”.Que é a América de hoje? Que será a América de amanhã? A finalidade de Atenea é encontrar resposta a essas duas interrogações do destino americano.
Os poetas brasileiros agora traduzidos por Guillén são: Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Raul Bopp, Jorge de Lima, Ascenso Ferreira, Jorge Fernandes, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Haverá a corrigir aqui apenas um detalhe (mas importante) na pequena notícia que antecede a Improvisação do Mal da América de Mário de Andrade. É que Guillén coloca o poeta de Macunaíma no grupo de "Antropofágica", ao lado de Oswald de Andrade. Sabemos que não só Mario de Andrade não tomou parte naquele movimento, como até foi rudemente combatido por ele. Afora esse cochilo, tudo o mais está certo. Guillén escolheu bem o poema que pode caracterizar aos olhos de um público estrangeiro o sentimento e a maneira de cada um daqueles poetas.
Sente-se nas palavras de Guillén a sinceridade com que diz amar a nossa poesia, cujo sentido profundo penetrou: "Acaso, en America, quienes están realizando una poesia de - America y para America, son estos brasileros, musicales, elasticos, alegres.
Con que voz pura cantan. Se ve ele juego muscular de la raza bajo la dorada epidermis de la musica!"
Há tantos poetas que se chamam de America. Mas, a juízo de Guillén, cantam-na como quem faz madrigais à Lua. De pura memória, "sin esta india unción por la cosa nuestra, si esta ternura de nodriza por el poemita infante".
Assim, companheiros, alegremo-nos: um poeta irmão de outras terras e que conhece bem a America por a ter viajado em todas as dimensões, na quarta que é o tempo, e na quinta que é a poesia, sentiu que a nossa voz é maiorzinha do que a nossa terra e sobrou para o resto do continente.
Manuel Bandeira.
Notas
(1) Atenea é revista acadêmica da Universidad de Concepcion (Chile). Publica de forma ininterrupta desde 1924. Os números mencionados por Manuel Bandeira são de 1931 e encontram-se disponíveis digitalmente: https://revistas.udec.cl/index.php/atenea/issue/view/521
Por meio dessa página, pode-se consultar na íntegra o trabalho de Guillén em La nueva poesia brasilera.
(2) Alberto Guillén Paredes (1897-1935), poeta peruano, foi chefe da legação de seu país no Rio de Janeiro, entre os anos 1929 e 1930. É autor da antologia Poetas jóvenes de América (1930).
(3) Domingo Melfi (1892-1946), jornalista e escritor chileno, dirigiu a revista Atenea.
Fonte:
BOLETIM DE ARIEL [RJ, 1931-1939]. Ano 1931, Edição 01, p. 15. Disponível na Hemeroteca Digital Brasileira, Fundação Biblioteca Nacional.
Todos os direitos reservados aos herdeiros de Manuel Bandeira.
Projeto Memorial da Literatura. Revista Voz da Literatura. Dezembro de 2022. Notas e transcrição: Rafael Voigt Leandro
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